É CONCEBÍVEL QUE MEUS OLHOS ESTIVESSEM ABERTOS [BRASIL]

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Mostra de vídeos

Data

10 - 12/NOV

Hora

12H - 18H

Local

CASA FRANÇA-BRASIL, Rua Visc. de Itaboraí, 78 - Centro

Ingresso

ENTRADA FRANCA

Foto: Deborah Stratman

CURADORIA: Analu Cunha e Alessandra Bergamaschi

A seleção de vídeos segue uma linha que busca o feminino como tópico relacionado a um outro não revelado e não revelável, uma gama de forças psíquicas e sociais sobre as quais os indivíduos têm pouco ou nenhum controle, e que, por isso, causam medo e tendem historicamente a ser reprimidas: na vida, mas também na arte.

O primeiro programa é sobre intuições, epifanias e olhares femininos voltados para a a natureza – pois as forças da “criação” são intimamente ligadas a esse segredo. O segundo é sobre os corpos: vozes femininas que dançam em volta de corpos massacrados, fragilizados, exilados, marginalizados, que acolhem e revelam suas fragilidades.

“É concebível que meus olhos estivessem abertos” é um verso do poema “A Mulher de Lot” da poeta polonesa Wislawa Szymborska.

PROGRAMA 1

Deborah Stratman, It Will Die Out in the Mind (Isso se dissipará na mente), 2006 – 3’57”

Uma pequena meditação sobre a possibilidade da existência de fenômenos paranormais na era da informação.

Deborah Stratman, … These Blazeing Starrs! (… Estas estrelas ardentes!), 2010 – 14’00’’

Quando os cometas começaram a ser notados e observados, foram associados à premonição de catástrofes, à chegada de messias, à convulsões e ao fim dos tempos.  … These Blazeing Starrs! justapõe imagens dessas interpretações antigas às imagens do desejo empírico moderno de medição e análise. Atualmente, os cometas são considerados pela ciência como cápsulas de tempo que contêm informações elementares sobre a formação do nosso sistema solar: tentamos interceptá-los com foguetes para ler seus espectros luminosos. O sentido oracular permanece – o que mudou são apenas os métodos de adivinhação.

Deborah Stratman, Musical Insects (Insetos musicais), 2013 – 6’29’’

A temporalidade do filme imita o ritmo de observação e leitura de uma obra impressa: o livro infantil ilustrado de Bette J. Davis com o mesmo título, onde aparecem cigarras, grilos e gafanhotos.

Deborah Stratman, Second Sighted, (Segunda vista) – 5’06’’

Sinais obscuros de uma iminente catástrofe. A partir de imagens de arquivo, o filme propõe uma decodificação oracular da paisagem.

Ana Vaz, Olhe bem as montanhas, 2018 – 30’30’’

A frase “Olhe bem para as montanhas!” foi cunhada pelo artista Manfredo de Souzanetto durante os anos de ditadura do Brasil. As atividades de mineração estavam destruindo o meio ambiente no estado de Minas Gerais, no sudoeste do país. Ana Vaz traça paralelos entre esta região e o distante Nord-Pas-de-Calais, no norte da França, também marcado por mais de três séculos de mineração. Ocas e evisceradas, as montanhas mineiras se tornam os receptáculos de memórias fantasmagóricas. Por outro lado, na França, as pilhas de lixo de mineração se transformam em reservatórios de biodiversidade, onde a fronteira entre a natureza e a tecnologia é agora indiscernível. O “olhar de perto” direciona o filme para detalhes sonoros e visuais nunca desconectados de seu alcance político: uma tomada do céu tirada do fundo de uma ravina é suficiente para evocar os fantasmas de povos indígenas erradicados, cuja caverna, no entanto, continua a ser pintada. (Charlotte Garson, Cinéma du Réel)

Brigida Baltar, Quando fui carpa e quase virei dragão, 2004 – 2’10

O vídeo foi filmado no Japão, em 2004. A cada dois minutos, ele traz uma narrativa em que a natureza se transforma em fábula, inspirada nas tradições orientais, onde a carpa é um símbolo de fortaleza e resistência. Os peixes nadam contra a correnteza até atingir a nascente. Segundo a mitologia, quando isso acontece, as carpas se transformam em belos dragões.

PROGRAMA 2

Lyz Parayzo, Guarda Nacional, 2016 – 1’45

Marchar, escovar, verbos em gênero. Segundo a artista, “estou produzindo dinamites plásticas que vão de encontro a tudo aquilo que não se repete, ou seja, o que está fora da norma em atividade. Quero repetir o abominável até transformar em norma, que desconforto vire excitação e excitação vire desconforto. Só uma norma não dá.”

Naïmé Perrette, I wanna be blind (Eu quero ser cego), 2016 – 28’00’’

I wanna be blind é o retrato de James McCullough, um jovem pintor e músico da cena punk de Melbourne que trabalha também como agente funerário. O filme analisa como esses diferentes aspectos de sua vida se entrelaçam, afetando-se. Na frente da câmera, ele oscila entre uma atitude performativa e momentos auto-reflexivos. Através das observações sensíveis sobre os cadáveres despidos que manipula diariamente, ecoam seus sentimentos sobre a exposição diária para a realização do documentário, em um frágil equilíbrio entre controle e vulnerabilidade.

Laura Huertas Millán, jeny303, 2018 – 6’00’’

“Passando por um quarto, na festa, vi pessoas aquecendo heroína. Eu queria experimentá-la no meu corpo … ” A câmera vagueia pelo prédio 303 – ícone arquitetônico de Bogotá e ponto crucial do ativismo político estudantil nos anos 60 – acompanhada pela voz de Jeny, uma jovem transexual filmada durante sua reabilitação. Um encontro casual: alguns anos antes, quando o pai da cineasta lhe pediu para filmar a faculdade de arquitetura onde ele havia ensinado, um acidente com seu filme de 16 mm resultou na sobreposição do retrato de Jeny. As palavras da sobrevivente encontram assim os slogans políticos nas paredes de tijolos demolidas em 2015.

Luisa Marques, os objetos, os animais, os mortos, 2016 – 13’19’’

Numa casa assassinada, um faraó decadente está em seu trono. em torno dele estão seus objetos, animais e mortos.

Luisa Marques, toda cor abandonada é violenta, 2014 – 13’50’’

(Des)ato meus braços.

Aleta Valente, A misoginia está vazando, 2015 – 8’02’’

Registro das reações agressivas à uma foto de perfil postada pela artista no Facebook, que retrata uma representação da mulher que foge dos padrões.

Anitta Boa Vida, Sem título, 2018 – 3’22’’

O vídeo histórico “I’m too sad to tell you” de Bas Jan Ader entre o reflexo da artista e outras camadas de imagens do cotidiano com o registro sonoro “Desculpe Mas eu Vou Chorar” de Leandro e Leonardo.

Brigida Baltar, Wind, 2004 – 30’’

Um video muito poético sobre o vento e como se manifesta através do movimento dos cabelos da artista na estação de metrô em Londres. Um vento urbano, uma espera.

MONITOR

Amanda Devulsky, it’s been a really sad day, 2018 – 23’10

Imagens e textos trocados durante uma relação amorosa: uma autópsia imagética de transações algorítmicas e afetivas surge a partir de narrativas e fabulações íntimas. O vídeo faz parte de uma instalação composta por vídeo, foto, e textos.

CURADORAS

Alessandra Bergamaschi nasceu em Lorena (SP), vive e trabalha no Rio de Janeiro. É realizadora e pesquisadora, formada em Comunicação pela Universidade de Bolonha e atualmente inscrita no programa de Doutorado em História Social da Cultura, linha de pesquisa em História da Arte e da Arquitetura,  na PUC-Rio. Em 2015 funda o coletivo OLHO, plataforma de pesquisa, discussão e exibição de obras de arte em vídeo.

Analu Cunha nasceu em Maceió, vive e trabalha no Rio de Janeiro. Artista, trabalha com pesquisa, arte-educação e curadoria. Doutora em Linguagens Visuais (EBA/UFRJ), com estágio de doutorado na Université Sorbonne Paris 1 e pós-doutorado PNPD/Capes na EBA/PPGAV/ UFRJ (2014-2015). É professora do Instituto de Artes da UERJ, de Videoarte na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e atual coordenadora das galerias COEXPA/DECULT/ UERJ. Desde 2004 trabalha com videoarte, pesquisando as interfaces entre som e imagem, com ênfase nas relações rítmicas entre o que se vê e o que se ouve.